Minha geração talvez tenha sido a última a crescer completamente fora da revolução tecnocultural proporcionada pela bolha da internet, tendo mergulhado nela com toda a inocência utópica de quem não teve utopias com as quais lutar quando mais jovem. Acreditou que aquilo seria realmente uma revolução. Se nisso acertou de certo modo, o fez com a mesma ingenuidade de todas as crenças secularizadas.Hoje vive entre o burnout profissional que adveio do incremento tecnológico e o colaboracionismo de quem lucra com a expansão da tecnovigilância, geralmente com o argumento velhaco de democratização. O fato é que as lutas não mudaram, apenas os instrumentos de dominação e contradomínio. Vergonhoso fim de uma geração que hoje luta para sobreviver e fazer-se importante em um mundo que vai em breve transformá-la em mais um resíduo eliminável.