exumação

Os ossos estão no pátio desenterrados por cães

Os ossos estão na sala onde fazemos refeições

Os ossos estão no quarto sonhados por nossos sonhos

Os ossos estão à porta e aguardam nossa partida

Os ossos estão no parque brincando na gangorra

Os ossos estão deitados dormindo sob a marquise

Os ossos estão à espreita para assaltar os felizes

Os ossos estão na praia à sombra dos urubus

Os ossos vão ao cinema para ver George Romero

Os ossos chegam no estádio vestidos para guerrear

Os ossos governam todos mas fingem oposição

Os ossos marcham nas ruas reivindicam novos mundos

Os ossos jamais esquecem quem os esqueceu um dia

Os ossos vivem conosco falam e amam conosco

Os ossos só não conseguem ser no passado guardados

literatura e ciências

Fui convidado pelo IFBA-Feira de Santana para uma discussão sobre a ciência através da literatura, junto com o professor de filosofia da UFRB, Marcelo Santana. Já é a segunda mesa de que participamos juntos no mesmo IFBA-FS. A primeira foi durante a pandemia, para falarmos sobre a morte na literatura e na filosofia.

Dei exemplos de como a literatura hoje tem dialogado com as ciências ambientais e naturais. A climatologia foi a primeira área a atualizar o discuso dos negacionistas, para muitos originário da negação do Holocausto judeu. Depois esse discurso se ampliou para vacinas e outros tópicos. O guarda-chuvas da minha fala foi a LITERATURA ESPECULATIVA, termo hoje ainda problemático, mas que didaticamente abrange a ficção científica, literatura fantástica e de horror, o afrofuturismo, a literatura de fantasia e a literatura animal. Detive-me um pouco mais na animal como uma crítica ao excesso de antropocentrismo de certa ciência em detrimento de uma necessária politização das ciências da vida.