exumação

Os ossos estão no pátio desenterrados por cães

Os ossos estão na sala onde fazemos refeições

Os ossos estão no quarto sonhados por nossos sonhos

Os ossos estão à porta e aguardam nossa partida

Os ossos estão no parque brincando na gangorra

Os ossos estão deitados dormindo sob a marquise

Os ossos estão à espreita para assaltar os felizes

Os ossos estão na praia à sombra dos urubus

Os ossos vão ao cinema para ver George Romero

Os ossos chegam no estádio vestidos para guerrear

Os ossos governam todos mas fingem oposição

Os ossos marcham nas ruas reivindicam novos mundos

Os ossos jamais esquecem quem os esqueceu um dia

Os ossos vivem conosco falam e amam conosco

Os ossos só não conseguem ser no passado guardados

poema-objeto

A fotografia abaixo é de um poema-objeto, concebido por mim e por Maruzia Dultra. Ele poderia ser intitulado “O poema é um animal”, frase tirada de um texto de Herberto Helder, “(memória, montagem)”, originalmente do livro COBRA, mas hoje em PHOTOMATON & VOX.

O poema-objeto foi feito para o videoensaio HERBERTO HELDER OU: MEMÓRIA, MONTAGEM, VIDÊNCIA, onde se vê ele sendo executado.

“o poema é um animal” (Sandro Ornellas e Maruzia Dultra)