este corpo se soletra com a arte e o engenho dos operários
seu movimento expande o espaço
preenche-o com delicadas linhas de força
dilata o olhar na jornada incerta
este corpo dança
destrói leis da física
perfura o ar-livre
às vezes carne desgovernada
às vezes traço matemático
este corpo não mais se sente
fratura-se, rompe-se, perde-se
é deixado para trás
terra-de-ninguém
caído no rastro de outro corpo
palco incompartilhável
este corpo sua
multiplica-se atroz
depois de desposar, desafiar, seduzir
e renasce – múltiplo & contraditório –
supernova explodindo em luzes
sempre longe do universo
ao rés-do-chão
bem mais próximo
mais tóxico
agora não há mais espaço
nem ar-livre
nem dança
só corpo
e tudo nele navega – elétrico
tudo nele anela – novelo
espelho do fora
diferente de si e diferente
múltiplo & contraditório
fora de tudo
como um breve sonho da matéria
involuntariamente móvel
posto pertencer sempre no azul-metálico
& atravessar desertos à seco