Hélio Oiticica executa um “Parangolé de cabeça” em Waly Salomão.
Foto de Andreas Valentim.
Waly dizia que aprendeu com Hélio que a vaziez após uma exposição ou publicação é muito importante para a criatividade de um artista.
SUPORTAR A VAZIEZ
suportar a vaziez
cruzar de ponta
a ponta meu deserto
levando mundos supérfluos
para distorcer a sensatez
o mito do lado esquerdo
exato reverso
do que é irreal no gesto
preciso nó desfeito
lado esquerdo do peito
para o acaso
sempre aberto
sempre atento
sempre ao jeito
de um inacabado verso
entre a violência e o esmero
entre o tabu e o desejo
que não pára
pra contar até dez
que não pára
pra olhar de viés
no intervalo vão
de um mês
que só pára
e olha direito
de frente, suave, reto
quando é a minha vez
de suportar a vaziez
pés firmes no chão do universo
impresso na própria pele