ALBERTO PUCHEU – De prêmios, armadilhas e outras coisas, n. 2

capitão dunha, by snowbros

E não adianta pensar em se entregar ainda mais à vida, largar o emprego medonho, realizar o antigo sonho
de ser o que se acredita ser,
achando resolvido todo e qualquer problema. Não,
não adianta: não somos a solução embolsada,
mas isso de que jamais escapamos
na busca do impossível horizonte. Somos a vida
estendida entre o chão e o abismo,
as variações aleatórias que ela mesma, a vida,
nos distribui em prêmios e armadilhas, a velocidade com a qual, aturdidos, nunca nos acostumamos.
Não, não adianta pensar em se entregar ainda mais à vida
supondo baixo o preço a ser pago,
mas de receber o que nos é a nossa revelia.
Desconhecemos a salvação. Acabamos
nos lançando, sim, a uma intensidade maior,
e, desprotegidos, sob o risco constante
de você só tornará as coisas piores,
sob o risco constante do malogro,
não vivemos da melhor maneira: mas da maneira possível.

[do livro A vida é assim, Azougue, 2001.]

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