De uma maneira geral, pode-se dizer que a regra tauromáquica persegue um objetivo essencial: além de obrigar o homem a colocar-se seriamente em perigo (embora armando-o de uma indispensável técnica), a não subestimar, não importa como, seu adversário, ela impede que o combate seja uma simples carnificina; tão minuciosa quanto um ritual, ela apresenta um aspecto tático (pôr o animal em estado de receber a estocada, sem tê-lo fatigado mais do que o necessário), mas também um aspecto estético: é na medida em que o homem “se perfila” como deve ao desferir seu golpe de espada que haverá em seu golpe essa arrogância; é na medida igualmente em que seus pés permanecem imóveis ao longo de uma série de passes bem cerrados e bem ligados, a capa movendo-se com lentidão, que ele formará com o animal aquele composto prestigioso no qual homem, tecido e pesada massa cornuda parecem unidos num jogo de influências recíprocas; tudo concorre, em suma, para marcar o confronto do touro e do toureiro com um caráter escultural.
[Michel Leiris, A idade viril, Cosac & Naify, pp. 22-3]