a voz e os olhos de maysa
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Já li alguém dizer sobre Salvador que uma cidade que possui um Largo dos Aflitos tem um compromisso histórico com a tristeza, sob o risco de cair doente. Então vai o seguinte trecho, contra a felicidade postiça que é vendida e reproduzida nos quatro cantos da cidade.
Se alguém se confessa angustiado, é preciso mostrar o vazio das suas razões. Ele imagina a solução para seus tormentos: se tivesse mais dinheiro, uma mulher, uma outra vida… a frivolidade da angústia é infinita. Ao invés de ir até a profundeza de sua angústia, o ansioso tagarela, degrada-se e foge. E no entanto a angústia era a oportunidade: ele foi escolhido na medida dos seus pressentimentos. Mas que desperdício, se ele se esquiva: sofre da mesma maneira, humilha-se, torna-se estúpido, falso, superficial. A angústia evitada faz de um homem um jesuíta agitado, mas em vão. (…) o homem não é contemplação (ele só possui a paz, fugindo), ele é súplica, guerra, angústia, loucura.
[Georges Bataille, A experiência interior, p. 41-2]