MESAS E GEOMETRIAS
mesas redondas
a estranheza das mesas redondas
mesas redondas, desejos quadrados
desejos de conter o incontrolável
olhos-que-ouvem enquadram
rosto-que-fala e afunda nas mesas redondas
olhos-que-ouvem, rosto-que-fala, mesas redondas
triângulo edipiano
como luvas para mesas redondas
que desejam ser quadradas
desejo de enquadrar
com olhos-que-ouvem rostos-que-falam
meu rosto-que-fala denuncia tédio – me dizem
não – respondo – meu rosto-que-fala é intransitivo
apenas fala
não caibo em quadrados que se querem círculos
meu rosto é sem-forma, meu corpo é sem-forma
meu nariz é sem-forma, meus lábios deformam o que falo
e me perco
na memória da geometria
em mesas de arestas e afiados ângulos
sou elipse em mundo dia-a-dia mais agudo
sou voluta entre tantos quadrados sisudos
sou impuro entre demasiadamente puros
sou nas mesas redondas
definitivamente um estranho na porta dos fundos