Não se esqueça de que público e privado não existem aqui de forma distinta e clara. Pelo menos não da maneira que tradicionalmente esperamos. A “intimidade” foi trocada pelo afeto, e afetar é um artifício muito pouco romântico, como você sabe muito bem. Não há autenticidade no jogo das afetações, nem o gesto de assinar essas postagens. Tudo aqui é corpo e convenção: o corpo das posições tomadas, dos movimentos de cortesia e recusa, das vontades incontroláveis e, muitas vezes, socialmente reprováveis; a convenção que regula segredos, media contatos, impõe um relato minimamente lógico. Como agora, quando te escrevo o que escrevo. Será mesmo? Ao escrever este “como agora”, fique em dúvida. Sei que te incomoda, mas escrever tem sempre algo, eu diria muito, de convenção compartilhada entre quem escreve e quem lê. A “intimidade”, se ocorre de a querermos na escrita, será por pura convenção entre nossos corpos. Escrever é adentrar um espaço que devemos, por um lado, aprender a fazer privadamente nosso e, por outro, aprender a negociar publicamente com o outro. Mas afinal quem escreve? E quem lê?