Hermano Vianna: Existe mesmo esse perigo. A troca de uma cultura de mérito por outra pautada pela visibilidade. Agora, as coisas realmente mudaram, e temos que trabalhar com isso. O editor da revista Wired, Chris Anderson, publicou no blog dele dois textos sobre o que deve ser o site da revista que vai ser lançado agora. Vai ser uma revista aberta, transparente, onde até a pesquisa para cada matéria estará on-line. E ele fala que a tarefa hoje é você ser um catalisador e um curador de conteúdo, de uma conversa que é produzida em vários outros lugares, não apenas no próprio site. Eu acho isso interessante, porque acelera determinados processos.
Outro dado curioso é que muitas vezes a internet não é uma boa alavanca para conteúdos off-line. Talvez porque o que interessa às pessoas na internet é o processo, e não o conteúdo acabado. Elas querem remixar as músicas, numa cadeia contínua como um jogo, e não comprar o disco pronto. É uma idéia radical de participação.
(…)
Azougue: Um amigo diz que isso é uma essência do tropicalismo, de sempre buscar olhar o lado positivo das mudanças.
Hermano Vianna: Na verdade, somos todos filhos do Andy Warhol, que disse que ser pop é gostar do mundo.
Azougue: E onde fica a crítica?
Hermano Vianna: Talvez parte do gostar do mundo seja gostar da crítica também.
[Revista Azougue, Edição Especial: 2006-2008, Rio de Janeiro, Beco do Azougue, 2008, pp. 51-4]