MIL ROSTOS


vivo entredito por mal-entendidos,
vivo maldito, predito, premeditado
entre o riso e o siso, no desvio em que vivo,
no peito que levo,
no livro sem apelo;
rumino minha mistura, minha disputa,
minha labuta de puta-de-rua,
de beco-de-luta,
de quem refuta toda fé no ouro,
toda fé no tolo, toda fé no ouro de tolo,
do mesmo que não seja outro,
do outro que não esteja além,
aquém e à esmo,
à pé, à deriva, sem esquiva,
na penumbra claro-escura,
sozinho, sem turma,
mistura adúltera, festa inútil,
celebração do cão, gargalhada engasgada,
ação suicida, inação assassina,
cujo próprio nome borra, suja, rasura,
entorna a tina vazia;
só a voz é que ressoa atroz,
com a marca de mil pessoas, com a marca de mil memórias,
marca do duro e suave nas mil estórias
que se conta, que se coze,
das mil desforras, dos mil desgostos, dos mil discursos,
sem orgulho ou usufruto
para além dos mil rostos que possuo.

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