
Eu encontrara um curso pouco menos acidentado para que minhas águas descessem para o mar. Eu encontrara algo que me trazia rito e ritmo. Mas eis que teimei por novas aventuras e me encontrava desde há dois meses em águas novamente turvas, forcejando para não desistir e deixar meu barco virar. Hoje, no entanto, te divisei – sábia com seu cabelo de prata e sua voz ancestral – e me acendeste os sinais que eu já entrevera, mas que me faltavam mais seguros junto ao peito. E eis que vi e ouvi que precisava da voz, que tanto amo, que tanto me encanta, que me fez estar aqui agora te escrevendo – pois só escrevemos neste país por causa da voz: a escrita nossa é sempre uma escrita em voz alta. E sinto o desejo de propor novos encontros, novos projetos, novos bailes, correr à céu aberto, por entre os carros e as motos que lá fora passam indiferentes, para dizer: eis-me aqui, pronto para afirmar minha voz, meu corpo e minha escrita diante do mundo. E descubro que é preciso entrar novamente no redemoinho da vida para amar o destino, que a paz é a ante-sala da morte e que estou de pé, pronto para amar a palavra livre, palavra soprada, palavra tatuada, palavra que é lavra em todos os suportes, que é poesia contra a morte, palavra vida solta entre a mão e a boca. Agora começa o novo.