Alguns diriam, caro amigo,
o mundo está à mercê
da vileza, que põe a perder
monumentos, belos gestos,
devaneios, eu, você.
O sublime se esgarça, é verdade,
mas a poesia, isso não diriam,
está fechada na mão de quem
nada lucra da vida,
nada vale na guerra,
nada ganha na bolsa,
prêmio nenhum alcança
além da própria mendicância.
Eis que o mundo não muda,
ao contrário dos poetas.
A imagem destes na praça
é de ruína – estátua muda –
à qual todos se furtam,
pois não mais medusa,
e cuja usura está no abuso
da palavra-caco – “tradição”.