Um cheiro escapa do destilador
em segundos invade o galpão
É o aroma da jurema-de-oeiras
entre os morros da Chapada
e a capoeira da caatinga
Na poda matutina das folhas
redivivas em duas semanas
não se arranca ramos ou galhos
Suas folhas são feitas com a dimetil-
triptamina liberada ao nascermos
morrermos sonharmos nos extasiarmos
Todos sabem seu poder de cura
por transe e invocação
de ancestrais e caboclos
Na alquimia dos óleos essenciais
a dimetil não evapora – telúrica
a mais justa propriedade da planta
o sangue que flui nas folhas
e nos faz quase-vivos
quase-mortos quase-outros quase-nós
Bebido por pajés o vinho de jurema
tem força imunoestimulante
cuida de inflamações ansiedades
e agora ancestral ensina à ciência
sua sabedoria da terra profunda