máscara da indonésia, toba batak
SIMULADOR DE MIM MESMO
Na máscara assumo o mundo que se mostra
com a sabedoria do riso do palhaço.
Na máscara me encontro & me olho,
me enamoro & me vicio em desvario
& me avizinho do fundo mais turvo
que trago na pele & apalpo
com febre & mania nas mãos.
Na máscara aparo o desejo ácaro da falta
& me encho de tudo que se mostra profundo
à superfície dos olhos molhados em lágrimas sem sal.
Na máscara recolho o que venta, o que chove,
o que se move & mora nas passarelas
das rodoviárias oniricamente suspensas de Salvador.
Na máscara desmascaro a violência
que nos coage com emprego, chefe, salário
& nos assalta com desemprego, desespero,
desamparo para nossas costas apontados.
Na máscara transmigro pelo Atlântico
& simulo uma tez de feição mais dura,
uma cor mais escura que já trago
à máscara que em mim há desde sempre.
Na máscara reencontro deuses nos usos
mais banais dos rios, arbustos, terrenos
derretidos sob meus pés sagrados de homem.
Na máscara rasgo o luxo & apago a luz
rival dos poetas de rua que vendem
seus corpos nos bares aéreos do Rio Vermelho.
Na máscara mastigo a realidade com a crueza
de quem abriu o frasco & queimou um perfume de fogo.