Há alguns dias atrás, João Filho, no hiperghetto, publicou uma redondilha do Sá de Miranda, poeta quinhentista português, em que comentei do nascimento da subjetividade moderna autoconsciente e blábláblá, que com Fernando Pessoa vai ganhar a dimensão literária que conhecemos. Daí me lembrei dessa aqui, do Bernardim Ribeiro, pouco anterior à do Sá, que posto para o João.
Antre mim mesmo e mim
não sei que s’alevantou
que tão meu imigo sou.
Uns tempos com grand’engano
vivi eu mesmo comigo,
agora no mor perigo
se me descobre o mor dano.
Caro custa um desengano,
e pois m’este não matou,
quão caro que me custou!
De mim me sou feito alheio:
antr’o cuidado e cuidado
está um mal derramado,
que por mal grande me veio.
Nova dor, novo receio
foi este que me tomou:
assi me tem, assi estou.
[publicado no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende]