JOGO
ele chega chutando palavras dizendo
que quer porque quer que eu o leve ao cais
dos barquinhos que vira aos três anos que tinha
e que quer porque quer que eu brinque de carro
como ontem brinquei porque carro é dez!
e aquele foi cem! e que quer porque quer
migalhas de pão aos pombos jogar
quando correm dos passos no cais
em que vamos ver barcos
ele corre e cai e acaba tão sério
e não corre o mundo mas quer porque quer
o ainda impossível e acaba com a cara fechada
com o riso que engasga e pára e de novo
depois outra vez retoma que quer porque quer
correr todo o mundo seguro certo perfeito de si
ele dorme e sonha com bolas e pedras
e bichos e fala e grita se mexe ao meu lado
que vejo tudo isso e na hora ele acorda
e quer porque quer sonar no seu sonho
mas sabe que a vida se pega é sem luvas
pois teatro é real teatro é à vera
teatro é fatal e também é cruel é cruel é cruel.
ele brinca de roda com amigos
que giram com tudo aí cai uma amiga
e na praça ele pára a roda e fala
que assim não se brinca e não vale! e pára!
e se zanga com os outros se vira pra mim
que só olho de longe e me olha
o que posso e não posso fazer
se ele quer porque quer brincar de viver