A lógica negativa mata a vida. Essa lógica desenvolvida modernamente no século XVIII e que nos chegou pelos românticos. Desaguamos em um momento no qual não é preciso mais ensinar a ser crítico (ao contrário do que repetem ad nauseam por aí). Alunos são críticos da escola. A escola é crítica da sociedade. Fiéis são críticos da igreja. A igreja é crítica da nossa moral. Uma meio jornalístico é crítico de outro meio jornalístico. Um jornal de outro. Políticos são críticos da mídia. Todos são críticos dos políticos. Os excluídos são críticos dos incluídos. Estes são críticos dos excluídos. Mulheres são críticas dos homens. E vice-versa. Homossexuais são críticos de heterossexuais. E vice-versa. Negros são críticos de brancos. E vice-versa. Umas críticas são mais elaboradas, outras, menos. Umas têm espaço e poder, outras, não. E daí que tudo gira em falso. Como falso evidente. Crítico. Vida crítica. Em crise. É preciso ensinar a criar. Perdemos o sentido da criação. Da positividade. Da vida. Pois a vida não é negativa. A vida não é dialética. A vida segue o sentido da pura criação. Doce ou violenta, a vida é criação. Mas tudo o que se vê ao redor é o exercício da negatividade e da falta. Elogio da morte. Há muita crítica sob o disfarce de invenção. É preciso cuidado. Civilização de padres, a nossa. Que vive de apontar pecados, erros, falhas, gralhas. E angariar fiéis, rebanhos. Que não admite, não entende, não cogita que a produtividade só é produtividade se for positiva. Do contrário, é nada. O modelo ideal vige e vigia. Superego. Voz que não silencia sua verve (dialética), sua capacidade de criticar, seu poder de controlar. E produzir nada. Críticos de tudo e para tudo, de plantão nas tvs, jornais, blogs, salas de aula, canções: eis os atuais niilistas, em sua pele de cordeiro. Padres de plantão, prontos para falar em nome de um deus (ou uma idéia, pouco importa) e nos indigitar faltas. Mataram seu Eros e querem matar o nosso. Sob suas vestes pesadas e sombrias, no entanto, tocam-se. Vão aos seus claustros esconder sua própria positividade. E retornam ao convívio público ainda mais pesados e sombrios.