Ele sempre achou que mais valia para o estímulo à leitura de crianças e jovens ver os pais lendo permanentemente do que apenas possuir alguns (ou muitos) livros em casa. É claro que possui-los poderia contribuir, pois caso passe rapidamente pelas jovens cabeças uma sombra de desejo de abrir um livro sem qualquer obrigação escolar, terão a oportunidade de experimentar e ver se vale ou não a pena (que os escreveu) ler, afinal. Pois justamente esse foi o seu caso. O pai tinha algumas coleções em casa: enciclopédias gerais que faziam as vezes do mito para Pessoa (o mito é o nada que é tudo), daquelas compradas em partes e montadas em casa; havia alguns Machado de Assis, quase todos do Jorge Amado (afinal, o pai era baiano) e mais alguns poucos. Ele nunca vira o pai a ler absolutamente nada, mas quando algo lhe disse que o estranho gesto de abrir livros e percorrer as linhas lhe poderia trazer sensações semelhante a de certas ilicitudes que até então ainda não havia cometido, pode exercitar a curiosidade. Guarda hoje apenas duas coleções paternas. Sempre que olha para elas, lembra dele. Uma completa, com seus sete volumes, aos quais acrescentou um suplemento. Outra incompleta, mas original, que muito o auxiliou a hoje dizer em sala de aula: “Curiosidade é mais importante do que conhecimento; conhecimento é saber morto, curiosidade, saber vivo. Se não entendem o que algo escrito significa, sejam curiosos e perguntem: mas o que isso poderia significar?”

