Forjo o ferro quente deste tempo com o martelo.
Voam sangue pelo ar e fagulhas pelas unhas.
Forjo à força, e todo o corpo acolhe difícil
o risco desse ofício:
dói a espada do meu peito.
Um martelo é um luxo da vida
e se instala entre o corpo e o tempo.
O ouro dos dias nasce desse encontro e pesa
na balança da cabeça, que rola então
vermelha nas searas.
No olho desse tempo o martelo secreta silêncio.
E tumulto. E mistério. Longuíssimo.
É quando mulheres encostam os filhos às pernas.
E abrem os olhos terrificados. É quando
os pés pisam as nuvens do estreito caminho.
O sublime terror é trabalho do martelo. Só aí
se sabe o músculo e o animal desenhados na solidão
do poema.
Só aí se fica à espera do verão
vir nos destruir com sua violência de amor.
“A mão na pena, vale a mão no arado…” Arthur Rimbaud
Saudações Professor!
Você, como sempre, surpreendente! Gostei da metáfora do martelo,aliás,os versos soam incrivelmente, de fato, somos animais “racionais” assombrados pelo martelo social, instituicional, por final, por cada setor a ocupar nossa conduta disciplinar.
Grande abraço,mestre!