Forjo o ferro quente deste tempo com o martelo.
Voam sangue pelo ar e fagulhas pelas unhas.
Forjo à força, e todo o corpo acolhe difícil
o risco desse ofício:
dói a espada do meu peito.
Um martelo é um luxo da vida
e se instala entre o corpo e o tempo.
O ouro dos dias nasce desse encontro e pesa
na balança da cabeça, que rola então
vermelha nas searas.
No olho desse tempo o martelo secreta silêncio.
E tumulto. E mistério. Longuíssimo.
É quando mulheres encostam os filhos às pernas.
E abrem os olhos terrificados. É quando
os pés pisam as nuvens do estreito caminho.
O sublime terror é trabalho do martelo. Só aí
se sabe o músculo e o animal desenhados na solidão
do poema.
Só aí se fica à espera do verão
vir nos destruir com sua violência de amor.
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Você, como sempre, surpreendente! Gostei da metáfora do martelo,aliás,os versos soam incrivelmente, de fato, somos animais “racionais” assombrados pelo martelo social, instituicional, por final, por cada setor a ocupar nossa conduta disciplinar.
Grande abraço,mestre!
“A mão na pena, vale a mão no arado…” Arthur Rimbaud
Saudações Professor!