Do oriente vem o rito que o gavião-açu pia no poema.
Não há motivo para pena, nem razão para escrever
que a vergonha de ser homem.
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Minha melodia chumbada em versos secretos.
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Dos ombros dos gigantes, caímos grão em solo morto.
Do subterrâneo, subiram sacudidas pelo vento
as escoras de um mundo tombado de ponta-cabeça.
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Segura minha mão, Davi Kopenawa: a desorientação
se apossou dos nossos passos,
e plantamos gestos de ouro num céu ressecado.
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Há obras de deus, obras de arte e obras da grana.
Este não é tempo de obras humanas.
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Maquinamos superfícies esféricas, duras e difíceis.
Do fundo das cavernas para a febre dos ofícios.
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Mas os mortos se acumulam em festa ouvida na curva do rio que vem.
É o cadafalso abrindo-se a todos os fados.
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Rosa dos Ventos. Rosa Inversa.
O cálculo diluiu a fronteira entre vida e promessa
e a imago mundi se evadiu da terra.
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A loucura nos destina aos esgotos da história.
E o que era hipótese de futuro virou delírio da memória.
Vivamos assim os afetos que depõem o terror
e impõem impossível amor.