O pensamento da desconstrução se caracteriza por conduzir sua análise à aporia, capturando paradoxos e limites na lógica daquilo que se deseja desconstruir. Até porque desconstruir o tal do logocentrismo, valendo-se do mesmo logos, é brincar de desfazer o que não se desfaz, já que a desconstrução não é nem nunca foi uma teoria crítica. Ela recusa nietzscheanamente a dialética negativa. No máximo, Derrida se rendeu ao mais heterodoxo e marginal dos frankfurtianos: Walter Benjamin.
Esse giro em falso pela aporia no pensamento da desconstrução resultou em muitos dos impasses que hoje vivemos no terreno da ética e da política (não a conjuntural, mas a civilizacional, a “grande política”).
Daí que tenho pensado em como desenvolver vídeos que sejam em alguma medida reflexões sobre textos literários. E por vídeo não falo em narrativas documentais ou ficcionais, mas ensaios videográficos. De um lado, a palavra escrita foi capturada pela discursividade pragmática do neoliberalismo, fazendo dela valor financeiro (sobredeterminando seu valor cultural e político). De outro lado, a imagem tem uma concretude e imediatidade às quais as pessoas se rendem mais facilmente sem recorrer, num primeiro momento, ao logos.
Mas ao memso tempo isso talvez só seja possível se o texto que se videografa também seja resistente à paráfrase e à captura discursivo-pragmática. Daí Herberto Helder vir muito bem à propósito, penso eu, na tentativa abaixo, feita a quatro mãos com Maruzia Dultra e com a trilha de George Christian.
O texto de Helder é “(memória, montagem)”, hoje no livro Photomaton & vox, e associamos quatro frases escritas em momentos diversos do texto, mas evidentemente relacionadas entre si e ao poema, o que permite pensar pelo vídeo o que é a palavra escrita no poema em geral, e não apenas no poema herbertiano. No final das contas, o vídeo é uma leitura que corta, monta e comenta por imagens passagens de Helder.