O trabalho que faço é dividido em partes: 1) o trabalho propriamente dito é preparar e dar aulas, orientar pesquisas de alun*s de graduação e pós-graduação, participar de reuniões e administrar algum setor, participar de comissões temporárias ou permanentes, colegiados, congregação, pós-graduação, departamentos, etc.; 2) a pesquisa é a formalização de um campo largo o suficiente para abranger atividades diversas (leituras para aulas, para orientações, grupos de pesquisa e estudos, networks, congressos, palestras, escritos, este blogue, etc.), mas com unidade justificada por um caminho chamado metodologia, o que permite em parte o diálogo com os pares; 3) a escrita é o modo de organizar e tornar público um pouco disso tudo e outras coisas (não gosto da palavra “divulgação”).
Acontece que essas “outras coisas” são hoje em dia o que cada vez mais me interessa na escrita e estão ligadas ao que penso, leio e escrevo, não necessariamente ao que pesquiso (sintomático é a academia estar menos interessada em leitura, criação e pensamento e mais em números: Fábio A. Durão chama isso na área de letras de “burrice acadêmico-literária brasileira”), malgrado interesse pouco à academia, que toma o ato de escrever apenas como transmissão e divulgação informativa, logo superável e descartável, e pontuação competitivo-neoliberal (ah… os índices). Por isso, digamos que meu desejo tem se tornado aos poucos fazer da escrita um ato ligado a mim mesmo (como pensamento e criação) e não ao trabalho formal, por mais que ele próprio me propicie isso – e talvez justamente porque propicia, sendo o que justifica a existência das ciências humanas e artes na universidade: pensar, escrever e criar, apesar de quererem administrá-las (muitos dentro delas, inclusive) pelos padrões das ciências aplicadas.
O CV Lattes acaba se tornando o lugar onde tudo isso é empilhado quantitativa, não qualitativamente.