recado

Minha amiga querida, gostaria de te dizer tantas coisas, esmiuçar, contar histórias, fatos e impressões, fazer tese (tese, não, pois já tenho certeza absoluta), dizer do que já sentia, intuía e agora se realiza, e do que intuo que se realizará (e não é nada bonito), de como venho tentado lidar com muitas coisas, há mais ou menos dez anos, de como venho fazendo, há dois anos e meio, e de como quero fazer daqui para frente e já tenho feito, mas é incerto. Gostaria de te dizer dos meus medos de consequências pessoais (para além das atuais sequelas), pois das consequências coletivas quero mais é que se fodam a esta altura do campeonato. De como meus sonhos foram destruídos, mas como noto muitos outros sendo também – e tudo o que desejo é que quem explora sonhos alheios sofra, mas sofra profundamente – e eu sei que sofrem, sim, mas não aprendem. E vejo que é uma questão de burrice coletiva mesmo, que as gentes são porcas e não reconhecem as pérolas que encontram, pois gostam de chafurdar a cara na lama. E gostaria também de te dizer que de tudo o que escreveu “ter uma vida leve e saudável” é o que importa, a única coisa, pois essa vida (não a das redes, das narrativas, as institucionais, as dos grupos e coletivos, as identitárias, as sociais, as políticas e culturais, as históricas e o escambau), mas essa vida menor, mínima, frágil, mortal, mas só sua, em conexões e associações breves e pontuais, não contratuais, com outras – é isso o que importa e ninguém pode te tomar. Por mais que tentem, você sempre a terá – basta procurá-la e a encontrará. Te digo uma coisa: a masculinidade é tóxica e todas as instituições criadas pelo patriarcado são instituições tóxicas (tenham à frente homens ou mulheres, brancos ou negros, héteros ou gays). O poder é sempre masculino e tóxico. Erraram ao ler Foucault. Erraram ao ler Foucault. ERRARAM AO LER FOUCAULT! E foi intencional. Mas essa é só a minha paranoia atual. Não precisa concordar. Um beijo, se cuida, cuida da sua mãe e fique bem. Sandro