O poeta acordou às quatro da manhã,
saiu de casa sem se vestir
e tomou o assento no primeiro ônibus do dia.
O poeta deixou dormindo filhos que não teve
com mulher que não o abandonou
por nunca ter com ele conseguido viver.
O poeta não trabalha, nem é desempregado.
Luta pela inocência de surfar
a sucessão de ondas que vêm sem razão.
O poeta toca bandolim com astros caindo
nos lírios de sua cabeça
ferida pelo peso de um concerto desastrado.
O poeta se desespera com a espera do mundo
em desembarcar
na plataforma de uma gente e uma terra do futuro.
O poeta sabe que a poesia lá não está,
mas na incapturável
forma de um vento que varre a vida desde que acorda.